Como aceitar suas fantasias mais selvagens
Como nós conseguimos acessar nossas fantasias e desejos mais obscuros? Nós queremos te convidar para colocar suas inibições de lado, tentar novos papéis e ter novas experiências sexuais e emocionais.
Fantasia sexual: um lugar de imagens eróticas, que fluem no seu cérebro quando você está excitado ou procurando ficar excitado.
É bem provável que você já tenha tido uma fantasia bem erótica agora no fundo da sua cabeça - mas você deve se sentir desconfortável de se comunicar com seu parceiro ou realizá-la. E isso é bem comum. Nós somos expostos a narrativa que tudo que for mais do que o sexo “aceitável” deve nos envergonhar ou devemos esconder para evitar julgamentos. Mas a verdade é: não existe sexo normal - existe sexo entre adultos que dão o consentimento e respeitam os limites de cada um.
Vamos entender as partes mais sombrias de nós mesmos e entender a conexão dessas partes com o nosso prazer e orgasmo. E assim, vamos aprender mais sobre o que verdadeira nos excita, quais fantasias realmente queremos realizar e como realizar sem ter nenhuma vergonha envolvida.
Assim como aprendemos com a comida, dinâmica de trabalho, química do prazer e a anorgasmia, o sexo têm uma carga emocional imensa. Fantasias sexuais e eróticas são ótimas pistas para criar uma conexão sexual mais profunda com nossos corpos - e também em nossos cérebros. Você tem uma fantasia sexual? Ótimo. Vamos começar a entender o que ela significa, como ela é perfeitamente normal, como comunicar e como explorar com segurança.
Primeiro: O que é fantasia sexual? Uma fantasia sexual ou erótica é o quadro que pintamos em nossa cabeça que pode virar ou melhorar a excitação sexual. Embora possa parecer meio raso que alguns pensamentos entrem na nossa cabeça sem nenhum motivo, eles são na verdade uma parte muito importante da sua psique - a imaginação humana, a criatividade! Pense em fantasiar como uma atividade de brainstorm. Você começa com uma ideia que vira outra, e depois outra, e mais outra… Até você se encontrar com um campo de possibilidades para vivenciar essa ideia. Nós fazemos as regras - e por consequência, nós podemos aprender a ser mais focados e descritivos na comunicação do nosso dia-a-dia.
Passo 1: Se dê permissão para ter fantasias
Você está na fantasia. Onde você está? Quem está com você? Como é a temperatura? O que você está vestindo? Crie a fantasia e descubra algo novo toda vez que você tiver acesso a ela. Lembre-se, esse é um momento divertido e é completamente normal explorar. Cada vez que você fizer esse exercício, vai ficar mais fácil silenciar os pensamentos invasivos de vergonha que surgem para dar opiniões na sua fantasia.
Muitos pesquisadores descobriram que existe uma conexão entre padrões de apego que surgem na nossa infância e crescem para nossa fantasia sexual adulta.
Como uma fantasia não sexual, fantasiar poder ajudar a entender quem nós somos dentro de nossos cérebros, com segurança. Nós podemos ir além, explorar mais, e nos motivar para um objetivo. Embora fantasiar não possa ser considerado um uso produtivo do tempo, ou algo muito racional, a fantasia nos ajuda a nos enxergar de formas diferentes que podem nos ajudar com nossa autoestima e confiança. E no caso de fantasias sexuais que são proibidas ou tabu, nós podemos aumentar nossa vontade de transar sem cruzar a linha do proibido na vida real. Enquanto nossas vidas físicas existem dentro limites que nós mesmos nos impomos, fantasias sexuais são seguras em nossas cabeças para explorar.
O termo micro-cheating (na tradução literal, micro-traições) surgiu faz alguns anos no Twitter para descrever as atividades de traição com outras pessoas sem ser necessariamente sexo - como fantasiar com outros parceiros. E sim, é super chato criar uma conta diferente para você mandar mensagem por inbox para outras pessoas para você não ser pego pelo seu parceiro - alô responsabilidade afetiva - mas também não é ok exigir que nossos parceiros só fantasiem com a gente. Como falamos, a comunicação e o consentimento são bases de um relacionamento, mas também é importante falar que pedidos para o outro parar de fantasiar com outras pessoas também são problemáticos.
É praticamente impossível achar uma pessoa que preencha todos os nossos requisitos sexuais e emocionais. Monogamia é uma construção social criada possivelmente com a descoberta das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), e com o movimento da agricultura de reter e ganhar terras através do casamento, ou até mesmo com o instinto biológico do primata macho tentando proteger seus filhotes. Pode também ter sido criada como uma forma de estabilizar o Efeito Coolidge - conceito biológico que descobriu que o tesão pelo parceiro diminui com o tempo, mas com um novo parceiro, ele aumenta de volta.
Então, não: fantasias sexuais não são traições! Nossas vidas são estressantes, complexas e cheias de confusões com esse belo ano que foi 2020. Por isso, pode ser difícil você focar no seu tesão com o seu parceiro, não importa o quão satisfeito você esteja com sua vida sexual. Não somos máquinas. E aí que uma boa fantasia sexual pode ser uma ponte para aumentar a intimidade - e isso é perfeitamente normal!
Passo 2: Coloque suas fantasias em um contexto
Uma das fantasias sexuais mais interessantes é quando elas conversam com nossa personalidade e se relacionam com nossa vida real. É claro, algumas coisas são naturalmente excitantes de repetir na nossa cabeça. Mas outras têm temas comuns que podem nos fazer ter um insight sobre nossa vida real.
Pesquisadores descobriram que existe uma conexão entre os padrões de apego que desenvolvemos na nossa primeira infância e na nossa vida sexual adulta. Na edição de 2014 do Boletim de Personalidade e Psicologia Social, o psicólogo Gurit. E Birnbaum descreveu sobre alguns estilos como modelos mentais para como nossos cuidadores nos trataram nos nossos anos formativos:
- Apego de segurança: São pessoas que são otimistas sobre elas mesmas, suas conexões, seus apegos, são confortáveis com a intimidade, e conquistaram a independência através da conexão profunda com os cuidadores na primeira infância.
- Apego ansioso-preocupado: Por vezes estão desconfortáveis com os relacionamentos mais próximos e tem uma ansiedade associada à desconfiança que tinham na infância com seus cuidadores.
- Apego inseguro-esquivo: Conectado ao medo de rejeição e a supressão de sentimentos para não serem machucados.
- Apego esquivo-medroso: Pessoas que querem ter um relacionamento mais íntimo mas evitam o apego porque têm medo do que as pessoas vão pensar sobre elas e se vêem como não merecedoras de afeição.
No estudo, Birnbaum descobriu que pessoas com padrão de personalidade inseguro-esquivo fantasiavam com temas mais agressivos ou de distanciamento social, enquanto pessoas com apego ansioso-preocupado fantasiam com aspectos de segurança de seus relacionamentos e com atos de carinho.
Embora não sejam os mesmos, existe uma conexão entre os padrões de apego em adultos e a fantasia de apego das crianças, os dois são mecanismos de defesa que dão uma ilusão de segurança com os cuidadores, que não estão realmente ali. Adultos que têm essa experiência de apego como fantasia tendem a internalizar essa conexão fantasiosa e transformar em uma visão negativa de si mesmo, virar um auto sabotador, ou recriar dinâmicas familiares tóxicas - e isso alimenta negativamente o estilo de apego pessoal.
Se você quer recriar uma fantasia, nós recomendamos que você compreenda completamente a fantasia - nos seus próprios termos.
É difícil fazer grandes anúncios sobre a fantasia sexual de cada um quando a sexualidade humana é tão complexa. Duas pessoas podem ter a mesma fantasia por motivos completamente diferentes. Sem entender a motivação por trás, é difícil localizar exatamente o que a fantasia significa para você na vida real. Temas de fantasia comuns podem ser genéricos: eles se conectam com necessidade emocionais que nós procuramos.
Passo 3: Analise temas comuns
Se alguém te perguntar quais são suas cinco principais fantasias sexuais, você iria relacionar isso a padrões de apego ou à algum tema? Como o poder, controle, submissão, emoção e diversão são vivenciados nas suas fantasias sexuais? Tome um tempo para escrever suas fantasias e os temas em comum entre elas. É uma ótima forma de entender o que você realmente quer no seu cotidiano, além de ser um pequeno passo para abraçar suas fantasias.
Ter autonomia das suas fantasias sexuais não significa que você precise ir mais a fundo no seu imaginário se não é o que você quer. Fantasias são nossas para descobrir e dividir se nós quisermos. Mas se você quiser viver a fantasia na vida real, nós recomendamos que você compreenda a fantasia nos seus termos. Isso significa se dar permissão para fantasiar, removendo pensamentos de vergonha que possam cruzar a mente, e escrever para entender o que está acontecendo. Dessa forma, quando você se comunicar com o seu parceiro, você pode falar sobre os limites e realmente mergulhar na fantasia.
Então, você pode estar pensando, eu devo falar com meu parceiro sobre isso? Eu odeio ser direta assim, mas seu parceiro não lê mentes. Para você se comunicar claramente suas vontades e necessidades, você deve sentar e conversar com o parceiro (ou parceiros) que estão realizando suas fantasias na vida real - e não só sobre como tornar a fantasia mais real, mas também dos seus limites e os limites do parceiro. Parecido com a masturbação mútua ou até mesmo falar sobre preferência de pornô com seu parceiro, essa é uma ótima oportunidade para ter uma conversa genuína sobre as coisas que você está interessada, talvez pesquisar sobre o tópico juntos, e discutir como os outros podem ser incorporados na fantasia. É sempre uma surpresa descobrir o que vocês têm em comum!
Fantasias sexuais são para ser exploradas, gostosas, divertidas - e ter os recursos para explorar mais nos ajuda a desenvolver um maior conforto com essas fantasias, nos liberando de medos e vergonhas que temos sobre elas.
Passo 4: Vivendo a fantasia
Precisa de ajuda para começar? Tente esse passo-a-passo para realizar sua fantasia na prática:
- Dê nome para sua fantasia. O que é? Como você quer realizá-la? Escreva e entenda quais são os limites e desejos.
- Fale com o seu parceiro de fantasia. Fale sobre o que você está interessada em um jantar, por exemplo - encontre um lugar longe da cama e neutro, para entender o que os dois (ou mais pessoas) querem da fantasia.
- Palavras seguras. Sempre crie palavras seguras para quando a fantasia pode ser demais para os seus limites.
- O clima perfeito. Se vista de acordo com a fantasia, coloque maquiagem, iluminação, aromas… O que for melhor e mais condizente com o que você deseja. Quanto mais confortável você estiver, mais fácil será você se envolver com a fantasia.
- Siga o fluxo. Tente não seguir um roteiro pronto da fantasia, mas se você prefere dessa forma, faça desse jeito. Têm que ser de uma maneira confortável e que flua para os dois.
É fácil pensar sobre nossas fantasias sexuais como algo que fica sempre no fundo de nossos cérebros ou coisas que devem ser removidas de nossas personalidades - mas essas são nossas fantasias sexuais. Elas são partes fundamentais de nós mesmas e de como vivemos este mundo. Aceitá-las é aceitar nós mesmas.
Artigo escrito por Laura Delarato. Tradução livre de artigo publicado originalmente no Swell. Leia o artigo original.