PRESS RELEASE SOBRE MARÍLIA PONTE, FUNDADORA DA LILIT
“A revolução do prazer começa na nossa intimidade”: conheça a empreendedora por trás da Lilit, uma das primeiras sextechs brasileiras
Marília Ponte, fundadora da Lilit
Para Marília Ponte, empreender é um caminho para criar o que você acredita sem precisar pedir licença. Mas caminhar sem pedir licença nem sempre foi algo comum para a empreendedora. Dessa jornada, nasceu a Lilit, uma das primeiras marcas brasileiras a desenvolver seus próprios vibradores como devem ser: criados por quem usa.
Fundadora de uma das primeiras startups de sextech brasileiras criada por mulheres e especializada em produtos centrados na sexualidade feminina, a Lilit, Marília conta que cresceu masterizando a arte de ser uma boa menina.
Sair desse lugar para se encontrar com a própria intimidade está sendo uma jornada repleta de autoconhecimento, questionamentos e liberdade para conhecer sua potência erótica. Uma história que ensina a muitas brasileiras como é urgente ressignificar a relação com nossa intimidade.
A boa menina
Força é a palavra que define as mulheres da família de Marília. Sua avó materna era o retrato do Brasil: nordestina, mãe-solo, analfabeta, guerreira. Já sua mãe foi a primeira da família a se formar na escola e na faculdade. Aos 41 anos, deu à luz a caçula da família, Marília.
Para o pai, empreendedor, self-made man, presente e amoroso, ela era a filha-única-princesa-do-papai. E assim Marília cumpriu seu papel de boa menina. Sabia que boas meninas não questionam, são quietinhas e se esforçam ao máximo para não decepcionar. Costumava cumprimentar as pessoas com um oi fininho e educado. Ela se lembra que era tão obediente que já foi esquecida na perua escolar, e não abriu a boca (!).
Ao mesmo tempo que seguia sorrindo, sem fazer barulho, despertava nela uma faísca de curiosidade. Ainda aos sete anos, sua mãe encontrou na contracapa do dicionário escolar um índice com todas as palavras relativas à sexualidade e a página correspondente. Pênis estava na 385, Sexo era encontrado na 411 e Vagina ficava lá na 452.
Pela primeira vez, ouviu do mundo que sua curiosidade era motivo de vergonha e censura. Mas, enquanto lia o livro sobre educação sexual para crianças que ganhou de presente da mãe depois do acontecido, observava seus colegas de classe desenhando genitais na carteira escolar, sem nenhuma repreensão.
Mais tarde, entendeu também que o peso de ser “boa menina” não estava apenas na necessidade de ser boa, mas também de cumprir os requisitos de ser menina. A diretora dizia que palavrões ficavam ainda mais feios na boca da garota, o padre da escola chegou a dizer que sentia maldade na sua cabeça. As broncas pela bagunça vinham carregadas da decepção por ser uma menina.
Já na faculdade, falar de masturbação era motivo de piada entre as amigas. Sexo era algo que todos já haviam experimentado, mas reservavam as dúvidas à aba anônima do Google. A sexualidade permanecia, assim, em um lugar estranho entre a curiosidade e o tabu, o prazer e a culpa.
Com o tempo, a vida se ocupou de estudo, trabalho e afazeres, deixando a sexualidade abafada entre cenas de ficção e pouco diálogo.
Porém, depois de quatro anos trabalhando na principal organização de apoio a empreendedores de alto impacto do mundo, a Endeavor, havia uma sensação estranha de não saber o próximo passo, nem mesmo a direção. Marília se deu conta de que os dilemas mudavam de forma, mas residiam ainda na “boa menina” que cultivava desde a infância, atendendo a desejos externos em vez de ouvir os seus.
Naquele instante, a voz interna começou a falar cada vez mais alto. Era hora de ouvi-la.
A descoberta do femini(sm)o
Nesse momento, a empreendedora decidiu investigar novamente essa curiosidade que cultivava desde pequena, dessa vez, olhando para dentro. O caminho para a descoberta do seu feminino foi pela trilha de medos e inseguranças, mas também sinalizada pela inquietação por melhores respostas.
A motivação para estudar sobre o feminino veio do desejo de entender a própria identidade como mulher.
Assim começou a ler sobre movimentos feministas, mergulhou no estudo sobre o prazer feminino e encontrou em ideias de autoras como Audre Lorde o verdadeiro significado da potência erótica que reside em cada mulher.
Nessa jornada, descobriu também o mito de Lilith. Sua origem mitológica remete à mulher livre, emancipada. Aquela que, vinda do mesmo barro de Adão, exigiria igualdade, liberdade e espaço para encontrar o próprio prazer.
Dos estudos, surgiu o ímpeto de fazer do prazer feminino sua causa pessoal. Do mito, veio a inspiração para o nome.
Já o veículo dessa transformação seria o empreendedorismo. Estudando o mercado erótico brasileiro e as principais tendências em sextechs pelo mundo, a empreendedora enxergou no processo de empreender a ferramenta mais potente de realização de seu propósito. Marília observou que, nos últimos cinco anos, tem surgido uma nova geração de empreendedoras que reinventam produtos e serviços eróticos pelo olhar feminino.
Elas são parte de uma indústria que cresce 30% ao ano e oferecem produtos e soluções inéditas para problemas milenares.
Diferentemente do status que a indústria erótica tem no mundo, as novas sextechs têm um design minimalista, identidade sofisticada, linguagem afetiva e desconstroem a imagem enraizada no imaginário coletivo de vulgarização do sexo ou da prática de auto estimulação como algo embaraçoso.
Até hoje, parte da indústria erótica ainda reproduz a distorção da sexualidade feminina por meio da indústria pornô, baseada em simulações de relações sexuais performáticas e irreais. Além disso, grande parte dos e-commerces de produtos eróticos e sex shops comercializam os mesmos produtos que vão desde apetrechos de qualidade duvidosa até marcas internacionais com preços inacessíveis.
Diante desse cenário, Marília enxergou na produção de novos vibradores com design, qualidade e afeto, um veículo de ocupação feminina da própria intimidade.
Sobre a Lilit
Se, por um lado o mercado de produtos eróticos brasileiro ainda é fortemente sexista, influenciado pelo imaginário da pornografia, por outro ele pode ser força-motriz da Revolução do Prazer, por meio de produtos que manifestam novas relações com a nossa intimidade.
Entre testes, protótipos e muita escuta, a empreendedora entendeu que poderia desenvolver produtos de prazer feminino, como devem ser: criados por quem usa. Essa premissa, baseada no tripé de design, tecnologia e afeto, deu origem ao primeiro lançamento da marca, inspirado no clássico vibrador de necessaire, o Bullet Lilit.
Conhecido por ser pequeno, discreto e compatível com outros produtos de prazer, o minivibrador clitoriano costuma ser o primeiro usado pelas mulheres, dada a facilidade de uso e estímulo externo ao clitóris. Porém, na versão reinventada pela sextech, o bullet apresenta um novo conceito de design e melhores funcionalidades, sendo usado também por mulheres que já têm experiência com a autoestimulação.
Depois de realizar testes de conceito e conversas abertas, o produto vem com 5 fases de vibração, três de velocidade e duas de ritmo. Seu uso é silencioso, oferecendo liberdade para o momento de prazer com intimidade e discrição. Na cor bordô, sua proporção é similar a de um batom, feito de plástico ABS seguro com um toque aveludado único que permite a descoberta de novas relações com a própria intimidade.
O teste do almoço de domingo
O entendimento da própria intimidade tem dado à Marília força para, a cada dia, se desfazer dos vestígios de boa menina que ainda resistem e viver, de forma livre, a liberdade que reside em ouvir seus desejos. No início, um dos principais exercícios era enfrentar os almoços de família e as conversas com parentes mais distantes sobre o novo negócio.
Explicar suas descobertas, desconstruir tabus e esclarecer o que tem sido seu real propósito em casa é um dos primeiros passos para reeducar uma sociedade inteira que cresceu considerando sexo um tabu.
Esses primeiros sinais de mudança que começam a ecoar entre amigos e familiares da empreendedora mostram como esse foi um assunto silenciado por tempo demais. Abrir espaço para a conversa já é o início da Revolução do Prazer. Mas para ela se concretizar, ainda há um longo caminho pela frente.
Para Marília, o sonho grande está em ver, por meio da Lilit, mulheres capazes de conhecer e utilizar sua potência erótica.
Citando Audre Lorde, a empreendedora conta que, para ela, o poder erótico é uma potência que oferece a medida de todas as coisas. Essa medida pode ser uma colher de chá ou uma cachoeira que deságua em nós dependendo do quanto conhecemos e exercitamos esse poder. Por isso, no momento em que conhecemos de perto nossa potência erótica, no contato com o outro, ou na descoberta do próprio prazer, criamos uma nova medida do que aceitamos em nossas vidas.
“Não nos permitimos mais um trabalho que nos apequena. Não deixamos que o outro nos determine. Não escolhemos o convencional em detrimento do nosso senso de ser e sentir. Enfim, nos redescobrimos Lilit.”
A autora feminista que tem preenchido sua mesa de cabeceira nos últimos meses explica ainda que esse poder erótico “é um senso interno de satisfação ao qual, uma vez que tenhamos vivido, sabemos que podemos almejar. Pois tendo vivido a completude dessa profundidade de sentimento e reconhecendo seu poder, em honra e respeito próprio não podemos exigir menos de nós mesmas.”
Portanto, dando novos sentidos à busca pela intimidade e seguindo pela rota de nossos desejos, descobrimos mais do que o próprio prazer. Descobrimos também nossa identidade.