Blue nude II
Histórias eróticas para mulheres livres. Se inspire e desperte a sua imaginação para sentir na intensidade que você deseja. Contos para gozar, se deleitar. Na vida, no quarto e na cama.
Ela abaixa a saia, eu lavo a boca. Voltamos à sala de recepção. No corredor, vejo a frase tatuada em seu braço. Art ain’t always polite.
Faz calor e chove em São Paulo. Estou no décimo andar de um prédio comercial e fico cismada com a reprodução de Blue Nude II na sala da minha analista. O que ela quer dizer ao deixar ali, despretensiosamente, a criação de Matisse? A forma feminina sempre esteve presente na obra do artista francês, penso, mas, ali, traz o molde fora da cor, delineando a figura de uma mulher com o movimento de sua tesoura. O quadro conversa comigo, devaneio. Há algo que ele quer me dizer e que não entendo — ainda.
A atmosfera muda. A porta lateral da sala de recepção se abre e surge aquela que chamo de Martina pela pura falta de coragem em perguntar seu nome verdadeiro. Toda semana, no mesmíssimo horário, ela brota. Digo brota porque é o efeito que causa sua chegada. Não há sobreaviso, mesmo que eu já saiba. Os efeitos são os mesmos toda quarta-feira: palpitação, rubor, calor. Nunca, em nenhuma das vezes, uma palavra foi trocada. Mas os olhares…
Martina senta na cadeira à minha frente. Escolha audaciosa. Em todos os outros encontros opta por uma menos à vista. Não dessa vez. Senta na cadeira à minha frente e me olha. Direto, reto, um olhar que traduzo desafiador. Vejo um sorriso de canto de boca surgir. Estou delirando? Será que vou perder a razão? Irei enlouquecer? De desejo.
Custo a admitir, mas é isso que sinto toda vez que Martina brota e divide comigo pelo tempo de espera aquele mesmo recinto. Agora ela descruza as pernas e volta a cruzá-las. Está de saia, mas, apesar da vontade, evito olhar a movimentação. Ela repete o gesto. É um convite para minha mirada. Dessa vez, não resisto. Ela ri. A secretária olha para nós rapidamente e volta a fazer suas coisas. Começo a sentir um calafrio estranho como se meu termostato natural estivesse quebrado. Sinto minha blusa branca empapar de suor.
Os faróis, os meus, acendem. Ela parece não se importar em olhá-los fixamente. Fico envergonhada, mas gosto. Do nada, ela levanta. Imagino que ela dará os passos que nos separam e que irá me beijar ali mesmo, na frente da secretária e do outro ser humano que também espera ser atendido. Mas, não. Ela caminha a passos apressados no sentido do banheiro, escondido atrás da recepção, no corredor que direciona aos consultórios da ala esquerda. Antes de sumir atrás da pilastra, olha para trás e acena com a cabeça: “Vamos?”.
Vamos? Foi isso mesmo que ela quis dizer? Será que fiz a leitura labial errada? Minha cabeça tonteia e penso não ter muito tempo. É agora ou nunca e melhor que seja já. Olho para os lados. A secretária submersa atrás de sua bancada, o paciente afundado em seu smartphone. Levanto e caminho rumo ao banheiro. Temos aproximadamente mais sete minutos antes que nossas sessões comecem. Parece pouco, mas há de ser o suficiente. Tem de ser.
Abro a porta do banheiro afobada. Ela ri e é surpreendida com meu beijo apressado. Desço pelo pescoço, os seios, a barriga e invado o meio de suas pernas. Subo a saia e vou direto com a língua no seu sexo, por cima da calcinha. Molho de saliva, mas a verdade é que ela já está molhada. Chupo-a como se fosse fruta. Ela apoia uma de suas pernas em meu ombro. Enfio minha língua dentro de sua vagina enquanto mexo em seu clitóris. Martina abafa os gritinhos com a toalha de rosto. Empurro seu quadril com força contra meu rosto. E a vejo explodir em gozo. Afasto meu rosto lambuzado do seu corpo. Ensaiamos sentar no chão, mas não há tempo.
Ela abaixa a saia, eu lavo a boca. Voltamos à sala de recepção. No corredor, vejo a frase tatuada em seu braço. Art ain’t always polite.
Entro para a minha sessão não sem antes passar em frente à obra de Matisse. Ela, de novo, conversa comigo. Mas agora entendo.
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