Ser transgênero: um guia de gênero e Identidade
Se você ainda não notou, é melhor se ligar: as pessoas transgênero estão em todo o lugar - finalmente! Revistas, TV, livros, séries… elas estão em todo o lugar. E para nós, que somos transgêneros, isso pode nos sobrecarregar emocionalmente.
Afinal, não é como se nós fossemos ensinados sobre gênero enquanto estávamos crescendo. E é verdade que muita coisa mudou nesse curto período de tempo. Como podemos ficar atualizados?
Há muita conversa sobre a comunidade transgênero, mas se você não estiver por dentro, estas conversas podem parecer exclusivas ou totalmente confusas. E é por isso que eu queria criar este guia sobre pessoas transgêneros
O que é binário?
Você provavelmente está familiarizado com esta história: Quando um bebê nasce, a presença de um pênis ou de uma vulva determina se essa criança é um menino ou uma menina.
Espera-se que os meninos, em geral, performem masculinidade, se vistam de uma certa maneira e desempenhem certos papéis na sociedade, como se fossem protetores. Espera-se que as meninas, ao contrário, sejam femininas, se vistam de outra maneira e cumpram outros papéis na sociedade, como ser cuidadoras.
Este é o roteiro que é nos é dado há muito tempo - os nossos genitais, entre todas nossas características, determinam quem somos.
O binário de gênero é criado por este roteiro de que estamos falando: no final, a sociedade é formada por homens e mulheres que têm qualidades distintas com base na sua genitália.
Com base neste binário, nos é dado papéis de gênero - como se estivéssemos sendo o elenco de uma peça de teatro - e tentam nos empurrar os tipos de comportamentos “aceitáveis” para uma pessoa de determinado gênero. Por exemplo: os meninos não podem chorar e as meninas são encorajadas a serem "femininas".
Estes papéis de gênero variam de cultura para cultura, e mudaram ao longo da história
O "binário de gênero" é, na melhor das hipóteses, limitante (todo o seu destino está realmente definido desde o momento em que você nasce?), e prejudicial na pior das hipóteses (nossos genitais determinam quem devemos e não devemos ser?).
Eu gostaria de pensar que as pessoas são muito mais complexas do que isso. É muito simplista dizer que nossos órgãos genitais determinam que tipo de vida devemos viver - ou que tipo de pessoas devemos ser.
O erro mais comum na definição de gênero é que ele é freqüentemente confundido com sexo. Sexo ao nascer refere-se à anatomia sexual que uma pessoa tem quando ela nasce (algumas definições também incluem hormônios e cromossomos, embora estes não possam ser determinados só de olhar para alguém).
A maioria das pessoas será designada mulher ou homem ao nascer com base nesta biologia, mas algumas pessoas serão intersexuais - o que significa que em sua anatomia, cromossomos e/ou hormônios estão fora das definições típicas de feminino e masculino.
O mais importante para se lembrar é que quando falamos de sexo, estamos falando do corpo. Quando falamos de gênero, estamos falando de como uma pessoa se identifica individualmente.
O gênero descreve a relação interna que uma pessoa tem com a masculinidade, a feminilidade, ambas, ou nenhuma; como ela se expressa através desse gênero.
Para ficar mais fácil, coloquei o gênero como uma receita. Vejamos os ingredientes:
- Identidade de gênero, que simplesmente significa com que gênero(s) você se sente mais confortável
- Expressão de gênero, que se refere às formas como você "executa" o gênero (roupas, comportamento, cabelo, etc.).
- E por último, há algo que eu chamaria de relação sexual, ou seja, seus sentimentos sobre suas características sexuais (eu me sinto confortável tendo seios, por exemplo? Estou angustiado por ter um pênis?).
O resultado final é que o gênero é pessoal, o que significa que cada pessoa tem seu próprio senso interior de quem é. O gênero é algo que cada um de nós determina por si mesmo.
Na verdade, a maioria das pessoas, quando perguntadas como sabiam qual era seu gênero, muitas vezes diriam: "Eu apenas sabia". Provavelmente você sente a mesma coisa. É algo extremamente pessoal - e vai muito além do nosso corpo!
Se você se identifica com o sexo que lhe designaram ao nascer - você é chamado de cisgênero.
Cisgênero não é uma palavra ruim ou uma coisa ruim. É tão simples quanto chamar alguém de alto ou baixo. Significa que seu gênero está de acordo com o seu sexo designado no momento do seu nascimento.
Mas se você se identifica com um gênero diferente daquele que lhe foi designado ao nascer - você é chamado de transgênero.
Por exemplo, ao nascer, eu fui designada mulher, o que significa que eu tinha as características sexuais do que é "feminino". E por causa disso, consideraram que eu era uma menina.
Mas quando eu estava olhando para minha própria "receita de gênero", os ingredientes me fizeram suspeitar que eu não era uma menina.
Senti que me chamar de mulher não expressava o que eu sentia na minha pele (identidade). Eu gostava de me expressar de formas andróginas e ambíguas de gênero (expressão). E me senti muito desconfortável com meus seios e outras partes do meu corpo - e eu queria que essas coisas mudassem (relação sexual).
Vale notar que não existe uma fórmula simples ou exata para o gênero - porque às vezes, nossa expressão, identidade e relação sexual podem ser muito diferentes uma da outra.
Os homens ainda podem usar roupas femininas (como drag queens, por exemplo, muitos dos quais - mas não todos - vestem-se de maneiras femininas exageradas para atuar, mas vivem e se identificam como homens em sua vida cotidiana). As mulheres podem cortar o cabelo de uma forma masculina. A expressão nem sempre nos diz como uma pessoa vai se identificar.
Para algumas pessoas, masculinidade e feminilidade são uma parte muito real de sua expressão e identidade; para outras, masculinidade e feminilidade não têm muita relevância. Tudo depende do indivíduo, e cada um deve ser livre para se expressar como quiser!
Também conheço mulheres transgêneros (uma mulher que identificada como homem ao nascer) que têm pênis e não têm nenhum problema em tê-los. Conheço homens transgêneros que têm vulvas e que estão perfeitamente satisfeitos.
Todos - e suas receitas - são únicos! A melhor coisa a se fazer é não julgar o que os outros possam ser e deixar cada um definir seu gênero.
O que é transição?
A transição é o processo de tomar sua identidade interna e manifestá-la em sua vida social, emocional e física.
Isto pode incluir a transição social, que pode envolver a escolha de um novo nome, experimentar novos pronomes (como "ele" ao invés de "ela"), mudar a maneira de se vestir, amigos e relacionamento com a família.
Algumas pessoas transgêneros falam sobre sua transição emocional, que foi o processo de aceitararem a si mesmas e explorarem sua identidade como um indivíduo.
E por último, há a transição médica, que pode envolver hormônios e cirurgias para alterar fisicamente o corpo.
Uma motivação comum para a transição médica é a presença de disforia corporal, que é a angústia ou desconforto com aspectos físicos diferentes da sua identidade de gênero.
Nem todas as pessoas transgêneros farão a transição médica ou mesmo social. Nem todas as pessoas transgêneros experimentam sequer disforia! A jornada é única para cada pessoa transgênero, e assim, também, são as razões pelas quais perseguimos nossas transições.
Infelizmente, a mídia tende a se concentrar nas mudanças físicas pelas quais passam as pessoas transgêneros, sem respeitar nossas realidades emocionais e nossas lutas na sociedade.
É por isso que é tão importante que as pessoas em nossas vidas respeitem nossa privacidade, e não perguntem sobre nossas transições sem intimidade para isso.
Algumas regras de etiqueta com pessoas trans
- Use sempre os pronomes que as pessoas trans querem ser chamadas.
- Se quiser saber mais sobre pessoas transgênero, sempre existe o Google!
- Se você ver uma pessoa trânsgenero sendo assediada, ameaçada ou violentada, denuncie!
A lição mais importante
Uma vez, um parente idoso me disse: "Eu simplesmente não entendo. Eu não entendo. As coisas eram muito mais simples quando eu era criança".
Talvez você também tenha uma pessoa mais jovem em sua vida que acabou de se assumir como trans - e tudo isso parece muito para ser absorvido.
Vou dizer algo que pode surpreendê-lo: você não precisa entender.
Vou te dizer o que disse ao meu parente - uma pessoa que eu amo muito.
Olhei para ela e disse: "Um dia, estaremos jantando e você vai notar que tem algo de diferente. Eu vou estar sorrindo. Em paz. E é aí que você vai entender. Estou na minha melhor versão”.
Você entenderá o que "transgênero" realmente significa quando você testemunhar a felicidade de uma pessoa transgênero - uma pessoa que finalmente é completa, alegre em sua própria pele, deslumbrante. É quando tudo isso fará sentido.
Escrito por Sam Dyle Finch. Tradução livre de artigo publicado originalmente no Everyday Feminism. Leia o artigo original.