Os principais mitos sobre sexo em um relacionamento longo
Meu apetite sexual era ótimo. Meu parceiro me dava aquela piscadinha de olho e pronto, eu já estava tirando minha calcinha e desesperada para transar ali mesmo. Ultimamente eu prefiro o Netflix do que ficar pelada. O que deu errado?
Eu olho para o casal na minha tela. Até vendo eles virtualmente eu consigo ver que eles estão tensos, com olhos cansados, enquanto eles esperam que eu dê o diagnóstico que o relacionamento deles é um fracasso iminente. Ao invés disso, eu disse as três palavras mais poderosas que uma terapeuta sexual pode falar: “você é normal”.
José e Talisha (nomes fictícios), como muitos de nós em relacionamentos longos, acreditavam que eles deveriam ficar excitados com o mínimo toque ou olhar. É o que falaram pra eles que era normal. Mas não é. Existem mitos duradouros sobre sexo que persistem como baratas que demoram a morrer. É hora de matar esses mitos de vez.
Mito #1: Sexo é um “apetite”
Eu trabalho com muitos casais no meu programa de terapia online eu tem variações de um único problema: “Existe algo de errado com meu apetite sexual”. Javin transar mais que a Melanie. Samson quer transar toda manhã. Mas Hiriko quer transar essa noite. Simon e Cynthia nunca querem transar. Muitos outros casais me falam que a vontade de fazer sexo é inexistente quando existe interferência do estresse, filhos, menopausa ou dificuldades de ereção.
É uma tirania a crença que todos nós devemos ter um grande apetite sexual o tempo todo. Não, nós não devemos ter. Na verdade, sexo não é um apetite.
A biologia básica nos ensina que o apetite é uma necessidade física que você deve satisfazer ou pode morrer. Se você não beber água, você morre. Se você não come, você morre. A fome e a sede são apetites, instintos básicos. O sexo é diferente.
Se você não faz sexo, você não morre. Sim, existe uma grande necessidade biológica de procriar para garantir a sobrevivência da sua genética e linhagem, mas a crença que “você tem um apetite sexual e ele está com defeito” pode te atrapalhar a curtir uma vida sexual rica e prazerosa.
Mas olhe desse modo: a maioria de nós já experienciou a sensação de nos apaixonarmos por alguém. A bioquímica do tesão cria uma urgência, uma fome pelo contato físico, toque, e por sexo. Nós nos sentimos excitados, focados e com muito tesão. Os especialistas chamam isso de desejo espontâneo. Eu tenho um pensamento erótico. Você me beija ou seus dedos encostam no pulso, e de repente, eu sinto uma forte excitação sexual. Esse tipo de desejo soa como um apetite, um instinto, mas não é. É um estado temporário de excitação emocional e física. Com o tempo, para a maioria dos casais, o desejo espontâneo vai se apagando. Nosso apetite acalma, e podemos ir por semanas e até meses sem querer transar.
Mito #2: Se eu não quero transar, meu relacionamento pode estar com problemas
A primeira coisa que ensinei para o José e a Talisha e todos os casais na minha terapia é que existe um modelo de três chaves para a paixão: intimidade, excitação e sensualidade. Eu os asseguro que a chave mais difícil em um relacionamento de longa data é a excitação - ou a sensação de desejo espontâneo. Independente do seu sexo e gênero, não importa quem você ame, o tesão louco do começo de um relacionamento começa a diminuir com o tempo assim que você resolve ficar fixa com o mesmo parceiro. (E isso é completamente normal!).
E se você quiser continuar a beijar mesmo que você não sinta tesão?
Os casais podem encontrar problemas se esperarem que o tesão dure para sempre. Mas quando o tesão não aparece na hora que eles querem, esse casais podem cair na armadilha de achar que não estão se sentindo mais atraídos pelo parceiro. Isso não é verdade. Os casais têm que entender que existe outra maneira de ficarem excitados, o que os especialistas chamam de desejo responsivo.
Esse é o desejo sexual e excitação que surgem como resposta à circunstâncias ou contexto. Por exemplo, quando você beijou o seu parceiro pela primeira vez, lá atrás, você se sentiu excitada sem o menor esforço. Mas depois de anos o beijando, a excitação do desejo espontâneo é tão raro como um filho adolescente querendo lavar as louças de casa. Pode acontecer - mas você não deveria contar com isso.
Então, quando você beijar seu amor, você pode pensar “nossa, isso foi bom” e pegar o controle remoto. Mas o que pode acontecer você continuar a beijá-lo mesmo que não se sinta excitada?
De acordo com uma pesquisa sobre desejo responsivo, você pode começar a transar e acreditar que o desejo vai surgir - não instantaneamente, mas como resposta de um estímulo. Existem muitas razões para fazer sexo, e ter tesão é apenas uma delas. E se você começar a procurar a proximidade com o parceiro ou o relaxamento depois ter um orgasmo, ou apenas porque você acredita que sexo regular é importante? Ao invés de esperar a paixão, crie-a e vire a paixão que você procura.
Muitos de nós acreditamos que exercícios físicos são importantes. Você vai para academia com o desejo espontâneo de suar em leggings apertadas ou pegar aquele peso? É claro que não. E mesmo assim, você continua a ir.
José e Talisha ficaram muito aliviados em saber que eles não estão destinados a um casamento sem sexo. Eles podem fazer um compromisso para tornar a vida sexual deles mais intencional. O desejo responsivo sugere que você trate sua vida sexual como ir para academia. Vá porque você sabe que é bom para você. Sue e faça o esforço. E o mais importante? Faça regularmente, e você vai sempre ficar contente no final das contas.
Mito #3: Eu só devo iniciar o sexo quando eu estou no clima
Terry, um estudante do meu programa online, colocou dessa forma: “Quando minha parceira inicia, eu me excito no processo. Mas e se eu nunca começar a pensar sobre sexo? Isso nunca é prioridade na minha cabeça…”
O Terry estava tratando sua vida sexual como um carro antigo. Um exemplo do que eu quero dizer é meu carro novo. Quando eu aperto o acelerador, eu adoro a sensação boa de resposta imediatas. Meu carro é um ótimo amante: é divertido, me faz me sentir bem, é legal. Mas assim que o tempo passa e meu carro passa ter algumas arranhadas, a novidade parece ficar antiga. Eu começo a não dar tanta bola pra ele. Ele fica ali na garagem e tenho que fazer esforço para pensar nele. Meu desejo responsivo para dirigir o carro diminuiu.
Os casais que dão certo gostam de fazer da vida sexual deles um hobbie. Eles escolhem tornar a paixão uma prioridade.
Mas o que carros e tesão têm em comum? Deixa eu te ensinar sobre duas chaves para o que eu chamo de motor do erótico: o desejo e a excitação.
O desejo é a parte mental da motivação sexual. Por exemplo, você pode criar uma fantasia de estar transando com o seu parceiro, pode até decidir que vocês podem ficar uma hora imaginando e se conectando eroticamente - apenas na mente. Esses pensamentos ajudam a estimulação sexual com o parceiro.
A excitação é o aspecto físico de estar com tesão (lubrificação, ereção, arrepios, mamilos eretos). É a motivação física que começa a conexão sexual.
“E agora a parte legal” - eu falo pro Terry, e todos os outros casais inscritos no programa - “Qualquer chave, independente que seja desejo ou excitação, pode começar a excitação.” Como o Terry não consegue ter muita excitação física espontânea, eu ajudo ele a cultivar o desejo mental e usar a cabeça dele para poder transar. Ele se sente empoderado com esse conhecimento, e pela primeira vez em cinco anos, ele começa a iniciar o sexo mesmo quando ele não está no clima. E é assim que fizemos:
“Quando a Erin quer fazer amor de tarde, eu tô nem um pouco afim de transar. Fico distraído com o trabalho e as tarefas”. - ele me disse. Eu o aconselhei a planejar. Ele toma um longo banho no chuveiro depois do trabalho, relaxando seus músculos e aliviando a mente. E então, ele começa a imaginar como vai ser legal ficar deitado abraçado pelado com a Erin. "Eu ainda posso não estar com tesão, mas pelo menos estou mentalmente interessado em fazer algo sexual, sabe?”
Sim, eu sei como é. Como a educadora sexual Emily Nagoski fala, desejo é uma curiosidade. O Terry escolheu deliberadamente a pensar sobre sua sexualidade ao invés de esperar uma vida sexual incrível cair no seu colo. Ele aprendeu que o sexo não é um apetite, e que sua sensualidade inerente é como um lindo veículo parado dentro da sua garagem parado, acumulando poeira. E ele tem as chaves.
Não está com vontade? Não deixe isso te paralise, porque o sexo bom - bom de verdade - está todo dentro de nossas cabeças.
Mito #4: Planejar é brochante
No meu programa eu tenho uma etapa que peço para todos os casais criarem o que chamo de “Planejamento da paixão”. Por quê?
Porque todos os casais bem sucedidos fazem a sua vida sexual virar um hobbie. Eles escolhem fazer a paixão virar uma prioridade. Eles investem tempo no relacionamento,a eles definem metas, eles passam a valorizar a importância da vida sexual. No final do programa, José e Talisha criaram metas diárias, semanais e anuais. Por exemplo, eles combinaram em dar um beijo (de língua) toda noite. Talisha se compromete a fazer saídas a dois fora de casa, sem crianças, todo domingo. José se compromete em aprender mais sobre o sexo tântrico e diz que vai trazer novas coisas pra cama. Eles concordam que uma vez por ano os dois vão fazer uma viagem romântica para algum lugar com sol e areia. As metas são específicas e os dois combinam que vão acompanhá-las.
Eu acho que nós devemos nos perguntar: o quanto esforço eu estou depositando para criar um relacionamento incrível? Porque o grande amor e a paixão não acontecem por acidente.
Casais incríveis são como você, mas eles aprendem as chaves para um sucesso de um relacionamento e as utilizam. Vão todos combinar de fazer nossos motores funcionarem: um gesto, um abraço, um toque por vez.
Artigo escrito por Cheryl Fraser. Tradução livre de artigo publicado originalmente no Swell. Leia o artigo original.