Flerte na porta da Escola (Parte 1)
Conheci R. na porta da escola das crianças, seu filho é um coleguinha de sala da minha filha mais nova. Tendo chegado recentemente na cidade, buscava o filho no colégio em alguns dias da semana. Sabe essas pessoas que chamam atenção e te acordam? Pois foi assim que o bicho-mulher em mim despertou. A primeira vez que conversamos senti que era uma pessoa intensa, dessas que fazem você se sentir penetrada com o olhar. Fiquei desconcertada e, desde que notei melhor os dias que eram a vez de buscar o filho na escola, passei a chegar um tempinho antes. Afinal, quando as crianças chegavam correndo entre mochilas, era tudo muito rápido e precisávamos nos despedir logo. A gente conversava sobre as maiores frivolidades possíveis, depois começamos a falar de músicas e bebidas, quase em um tom furtivo, sorrateiro, tentando captar o máximo de informações, atenções e interesses possíveis nos vinte minutos que tínhamos de conversa na porta do colégio. Dia-pós-dia, descobrimos que gostávamos de vinho, de corredores de mercado em promoção e jazz. Foi o suficiente para o primeiro convite acontecer:
— Sabe que sei de um mercado que tem degustação toda quinta? Eu costumo passar por lá no início da tarde, depois de deixar as crianças na escola. Se você quiser me fazer companhia, só não toca jazz... Quer dizer, de repente toca, mas tem umas promoções legais.
Pronto, reuni três interesses em comum. Me senti completamente idiota em fazer esse convite assim, mas R. me respondeu com uma risada gostosa e topou. Trocamos os telefones, o sinal tocou e minhas crianças vieram correndo afoitas, acompanhando seu filho, que, àquela altura, já estava acostumado a andar com os meus na saída. Os três conversavam animados, e nos despedimos com dois beijinhos. Muito rapidamente o beijo, que era pra ser bem superficial, pegou no canto da minha boca, e R. deslizou de leve a mão pela minha cintura. As crianças seguiam conversando animadas, não notaram nada, e rimos desconcertados.
— Fica combinado então, próxima quinta vamos dar uma olhada nas promoções e ver o que surge de bom por lá. Até!
Fiz o caminho de algumas quadras até em casa completamente atrapalhada, sem fôlego, ainda sentindo a sensação de seu beijo errando e indo para o canto da minha boca. Estava ansiosa para aquele encontro com mais calma, fora da porta da escola, sem a correria e a conversa fiada dos minutos até abrirem os portões. Mesmo nesse ritmo, ofegante e furtivo, esse flerte, que, no início, parecia tão barato, me acordou.
Nesse dia mais tarde, fui verificar se as crianças dormiam bem e em sono profundo, e lá estavam serenas, tudo ok. Passei a chave na porta, tirei o roupão e parei uns minutos pra me encarar no espelho. A camisola de seda destacava meus peitos, descendo pelas ancas e acentuando meu quadril. Soltei os cabelos e os ajeitei melhor, jogando de um lado pro outro. Durante muito tempo, eu odiei essa mulher que refletia ali, não me reconhecendo por entre cicatrizes, celulites, flacidez e os primeiros fios brancos denunciando a chegada da idade. Meu corpo nutriu meus dois filhos e por isso carregava essas marcas. Mas também carregava na memória da pele os tantos outros prazeres que já vivi: os/as amantes com seus olhares, toques, arrepios e passadas de mão. Também estavam guardadas nessa pele as tantas vezes que me toquei antes de dormir, buscando lembranças ou não pensando em nada, apenas nos movimentos que fazia com a mão. Essa mulher refletida hoje fazia o que podia pra se proporcionar momentos de conexão com essas memórias da pele, mesmo imersa na rotina, mesmo no automático e correndo pra relaxar e dormir. Assim, tranquei a porta, vesti minha melhor camisola e, aos poucos, fui eu mesma me despindo.
Com o quarto à meia-luz, acendi umas velas e coloquei uma música bem baixinha. Comecei passando hidratante nos pés, deslizando com a ponta dos dedos e me fazendo uma massagem. Subi pelo tornozelo e cheguei às coxas. Aqui, eu me demorei, espalhando o creme enquanto dava pequenas apertadinhas, intercalando com um toque sutil. Quando cheguei à bunda, me empinei para o espelho, tentando me ver melhor. Ao espalhar o creme, agora com um toque mais forte, me inclinei um pouco e me abri, abaixando de leve. Imagina se alguém me visse naquele momento, com a bunda empinada e meio aberta daquele jeito? O espelho denunciava minha cara de boba e meio envergonhada da minha pose. Segui, então, pela barriga, subindo para os peitos. Ali ficava um dos meus pontos mais sensíveis e gostosos de tocar. Comecei passando hidratante e sentindo o toque molhado primeiro em movimentos de baixo pra cima, deslizando de leve pelos mamilos, como se alguém estivesse por trás os apertando assim, sabe? Em seguida, massageei os bicos com a palma da mão em movimentos circulares. A sensação era de que estava me esfregando, bem safada, como um animal no cio, àquela altura já desperto. Não disse que tinha muita memória nessa pele? Olhei de volta para o espelho e me vi nua, à meia-luz: outra mulher, pronta pra sentir prazer. Queria R. aqui, me vendo agora. Será que manteria aquele papinho furado na porta da escola das crianças se soubesse que era uma das pessoas que pensava às vezes quando me tocava? Também não sabia que me arrepiei inteira quando nos cumprimentamos por tantas vezes e, mesmo sem segundas intenções claras, passava a mão pela minha cintura – até errar o beijo de despedida, que, justo hoje, tinha pegado no cantinho da minha boca. Fiquei pensando se esse beijo tivesse sido aqui embaixo... Sem me demorar, lembrando dessa cena, peguei meu vibrador, me deitei na cama e comecei a me tocar. Usei um pouco de lubrificante pra sentir melhor a textura, o deslizar dos dedos e do bullet, que começou em velocidade baixa. Com as pernas abertas, percorri pela minha vulva, fazendo pequenos movimentos no quadril, tentando encontrar um ponto mais gostosinho. À medida que ia deslizando com os movimentos, senti uma pressão crescendo no meu ventre: era hora de aumentar. Fechei os olhos e pensei naquele beijo de canto de boca. E em tantos outros que começaram por ali e terminaram na minha vulva, me encharcando inteira. Minha mente vagou por entre paus e bucetas que já me deleitei, sentia todos aqui comigo. Um arrepio voltou a correr pelo meu corpo, e fui de novo pra aquele beijo de canto de boca, pra aquela olhada safada de tesão velado. E se você estivesse aqui agora, R.? Rebolei mais forte, pressionando o vibro contra meu grelo, minhas pernas dando pequenas tremidinhas enquanto minha respiração ficava mais forte, até explodir. Senti uma onda de calor percorrer do meu ventre pra barriga e corpo todo. Minhas mãos adormeceram, as pernas trêmulas caíram. A serpente passeava pelo meu corpo, fazendo eu me relaxar por inteira depois da tempestade que tinha causado. Estava em paz, cicatrizes aqui não importavam: mais um prazer que a memória da minha pele tinha me causado.
Autora: Loren Kaiza