Flerte na livraria
HISTÓRIAS ERÓTICAS PARA MULHERES LIVRES. SE INSPIRE E DESPERTE A SUA IMAGINAÇÃO PARA SENTIR NA INTENSIDADE QUE VOCÊ DESEJA. CONTOS PARA GOZAR, SE DELEITAR. NA VIDA, NO QUARTO E NA CAMA.
A primeira vez que o vi foi justamente entre minhas prateleiras preferidas da livraria que eu frequentava nos intervalos entre o trabalho e a faculdade. Ciumenta que era com meus cantinhos favoritos, me intriguei com sua presença na parte de ficção logo no meu horário de ficar por ali. Acontece que, com o passar dos dias e da sua frequência parecida com a minha, esse sentimento inicial virou curiosidade e desejo por aquela figura de cabelos compridos.
Durante a semana, eu buscava meu livro da vez na estante, me sentava na poltrona do café, colocava meus fones de ouvido e era absorvida pela atmosfera confortável de estar ali vivendo uma pausa. Em busca de quebrar a rotina, criava um microcosmos de prazer no meio da tarde e deixava minha mente passear, fluindo por entre a história escolhida da vez. E, quando menos esperava, aquela figura intrigante pareceu ter brotado direto de um livro da Anaïs Nin para a realidade.
O homem de cabelos compridos chegava todos os dias no mesmo horário, um pouco depois de mim. Percorria as estantes com os olhos meio cerrados procurando algo interessante, mas nunca parava no mesmo livro: folheava as páginas com dedos, que comecei a notar que eram longos, o que me fez pensar no que mais aqueles dedos eram capazes de fazer. Por entre minhas páginas daqui, imaginava como ele passeava por suas páginas do outro lado do salão, sentado quase em minha frente. Imaginava o que se escondia por debaixo de sua roupa e se mordia os lábios daquele jeito enquanto estava metendo.
Fechava os olhos de leve e, em outro lapso de imaginação, estávamos transando bem ali, na mesa do café, com meu vestido levantado, na poltrona, de quatro, por entre as estantes... Esses pensamentos passaram a ser tão intensos que eu tinha que dar uma cruzada de pernas e contrair de leve meu clitóris para aliviar o desejo.
Sua presença montou um triplex tão grande na minha cabeça que, em dias que ele não ia, tudo ficava mais cinza; meus livros, desinteressantes; o doce, menos doce; o café, mais amargo. Um dia, depois de um sumiço, criei coragem e comecei de longe a demostrar interesse. Nas primeiras vezes, fixei por mais tempo o olhar, deixando com que ele percebesse que era observado. O universo se encarregou do resto, e, em uma das arrumações que o pessoal da livraria fez no salão, nossas poltronas passaram a ficar frente a frente, fazendo com que a segunda parte do meu plano entrasse em ação.
Cruzava e descruzava as pernas com mais frequência que o costume e, como usava sempre um vestido, acabava deixando parte das minhas coxas de fora – não exatamente de propósito, é que esses olhares, ao mesmo tempo que me enchiam de desejo, me deixaram meio tímida. Seus olhares, então, passaram a alternar entre meu rosto, me encarando por trás dos livros e das minhas coxas.
Foi em uma terça chuvosa que esse jogo de gato e rato acabou. Eu já estava ficando conformada com sua ausência naquele dia, passeando melancólica por sua estante de costume, quando senti alguém se aproximando por trás e me pedindo licença. Senti os pelos do meu braço se arrepiarem em uma eletricidade deliciosa com a aproximação de uma mão conhecida de longe, me tocando de leve nos ombros e se esticando para buscar um Jack Kerouac na prateleira em minha frente.
— Oi, posso perguntar seu nome? — Ele virou do nada para mim, como que em um impulso. Foi a primeira vez que ouvi sua voz naquele tom de perto, e era diferente do que costumava escutar ao longe, sempre pedindo um café carioca sem açúcar.
E, aproveitando do mesmo impulso, respondi àquela investida e criei coragem, o convidando para tomar um café em minha mesa. Observei, agora de perto, tudo que admirava apenas de longe: o movimento de seus dedos longos enquanto gesticulava, me contando que era professor em uma universidade próxima; a paixão com que contava que largou a advocacia para estudar filosofia, e que eu também compartilhava, já que também havia deixado os botões mecânicos do audiovisual para terminar a faculdade de ciências sociais; a admiração por Kerouac e a vida à margem; as entidades em comum que trabalhávamos na umbanda. A chuva seguiu caindo lá fora, indiferente ao encontro que finalmente acontecia ali dentro, e, mesmo que esse homem fosse um grande golpe emocional, já tinha valido a pena só pela aventura de me aproximar, demonstrar meu desejo, me sentir viva.
Acontece que, na hora de nos despedirmos, ele me chamou para procurar um livro em uma das prateleiras mais escondidas na parte de trás. O golpe tá aí, né, cai quem quer... e eu aceito os termos e desejo continuar!
Segui me fingindo de distraída e falante, reação natural quando ficava nervosa. Demos a volta nas prateleiras, e, quando chegamos ao fundo, ele parou, me deixando encurralada ao final do corredor e olhando ao redor para ver se algum funcionário se aproximava. Então, sem demora, nos agarramos quase ao mesmo tempo, dando um beijão e reproduzindo uma das cenas que por tantos dias fantasiei. As línguas passearam com pressa por nossas bocas com gosto de café e urgência de provarmos um ao outro. Ele era bem mais alto do que eu e precisei ficar na ponta dos pés, o que fez ele aproveitar e percorrer com suas mãos certeiras pelo meu corpo. As mesmas mãos que passeavam com tanto cuidado pelos livros que admirava agora deslizavam urgentes e com intensidade pelo meu decote, cintura e bunda. Em meu ouvido, ele confessou:
— Fiquei pensando nas suas coxas a semana toda...
Me derreti inteira com aquela confissão e retribuí, passando com a mão pelo seu pau e já o sentindo meio duro. Se ele pudesse visitar o meio das minhas pernas agora, também me encontraria ali com o clitóris super acordado, desejando aqueles dedos, língua e pau todos dentro de mim, inteiros e ao mesmo tempo por onde conseguissem.
Na hora exata em que ia me abaixando para chupá-lo, tendo apenas os livros como testemunha, ele me tirou do meu transe, me alertando de que, do outro lado da estante, alguém se aproximava. Então, nos ajeitamos e caminhamos de volta para o salão, disfarçando o tesão que podia ser cortado no ar e seguindo para a porta de saída. Lá fora, a chuva tinha passado e um sol de fim de tarde coloria tudo o que podia entre nuvens e calçadas molhadas.
Pintados por essa atmosfera, nos despedimos, trocando os contatos e um beijo, agora mais comportado, na rua.
— Te vejo amanhã aqui no mesmo horário?
— Só se a gente terminar o que começou... — respondi e soltei sua mão, fazendo um último carinho naqueles dedos para guardar na memória.