Temos que normalizar os vibradores como presentes
Alguns meses atrás, uma amiga minha teve uma péssima surpresa: o vibrador morreu enquanto ela estava usando (e não, o vibrador não tinha uma bateria extra).
O vibrador aposentado virou um assunto no nosso grupo. As pessoas simpatizaram com a situação e perguntaram se existia alguma possibilidade de trocar a bateria. Mas quando uma pessoa ofereceu comprar um novo vibrador, a generosidade espontânea me deu um estalo: talvez nós devemos comprar vibradores para nossos amigos mais próximos.
“Sexo é uma daquelas coisas que a gente faz, mas não fala sobre” conta a sexologista, expert em relacionamentos Jess O’Reilly. “Nós já sabemos que quando um casal introduz um vibrador na dinâmica, isso tem o potencial de abrir as linhas de comunicação. O mesmo acontece com amigos.”
Falar sobre sexo com seus amigos não é nada novo, mas é quase sempre em tom de brincadeira e piada. Qualquer pessoa que tenha entrado em uma sex shop como uma brincadeira lembra da situação com os amigos. Esse rito de passagem provavelmente tinha aquele senso de novidade, e as novidades podem parecer temporâneas. Para sermos claras, não tem nada de errado em rir ou fazer cara de espanto. Rir é um ótimo remédio para quebrar tabus, mas se todo mundo estiver rindo, é mais difícil ser claro sobre o que te faz se sentir bem. Eventualmente, tudo bem levar o prazer mais a sério e permitir que os outros façam o mesmo.
“Não é como se seus amigos tivessem que saber exatamente o que você e como você gosta, mas eu gosto de pensar que dar de presente vibradores ajuda a normalizar as amplas experiências que nós temos no privado com eles” - conta a médica - “Existem vários modelos que podem deixar mais claros a representação como é o prazer e o sexo”.
Dar de presente vibradores pode ajudar os casais a criar mais intimidade. “Nós não damos valor para nosso prazer, de forma monetária, como damos para outras coisas” - conta Elise Shuster, fundadora do aplicativo de bem estar sexual OkaySo - “Têm muito trabalho que temos fazer para ajudar as pessoas a sentir que seu prazer e desejo são legítimos e maravilhosos”.
O que mudaria se nós começássemos a dar vibradores casualmente? Passamos em uma vitrine, gostamos e lembramos desse amigo? Eu acho que, como quando ganhamos uma vela de um amigo, ia nos lembrar de como o prazer é normal e importante. Dar um vibrador para uma pessoa que você é próxima é o mesmo que falar “priorize o autocuidado” - “É um ato de carinho e afeição” - conta O’Reilly.
Ok, mas se você não está conversando sobre vibradores quebrados no grupo, como você dá eles de presente sem ficar constrangido? E qual é o melhor para comprar? Eu quero que você encare isso de frente, seja honesta. Você pode falar: “Esse vibrador funcionou para mim, e eu acho que você vai gostar dele também”. Talvez você possa mencionar que ele tem ótimas avaliações. Você não precisa dar uma explicação elaborada ou falar como é importante priorizar o prazer (a não ser que você queira). Alguns vibradores são melhores para iniciantes do que outros, então esse fator deve ser decisivo para sua decisão.
E mesmo que tenha mencionado a necessidade de ir além das risadas, não tem nada de errado em levar as coisas com humor. Se vocês e seus amigos mais brincam que tem conversas profundas, deixe “o jeito que você presenteia o vibrador combinar com sua personalidade” - diz O’Reilly. Se você está preocupada se o seu amigo ficaria ofendido com o presente, escreva um bilhete junto - só para deixar claro que você sabe que seu amigo não tem nenhum problema que tem que resolver (esse pode ser um momento bom de mencionar que você não envia vibradores para todos os amigos - essa pessoa é única e próxima o suficiente de você para isso fazer sentido).
Dar de presente um vibrador pode trazer mais conforto para suas amizades. “Eu não estou falando que dar um vibrador vai te ajudar a falar sobre alguma coisa em particular, mas ele tem sim o potencial de criar novas aberturas para conexões mais profundas” - diz O’Reilly.
Escrito por Patia Braithwaite. Tradução livre de artigo publicado originalmente na Self. Leia o artigo original.
