Temos que normalizar o sexo na gravidez

Eu não tinha noção das ideias negativas que eu internalizei sobe sexo na gravidez e na maternidade até eu e meu marido descobrirmos que eu estava grávida. 

Os preconceitos tomaram minha mente da forma mais sorrateira possível: eu esperava acordar um dia, com repulsa e sem menor interesse ao mencionarem sexo, só pensando no bem estar do meu filho. 

Achava que ninguém iria achar meu novo corpo atraente. Se eu fosse esperta, poderia usar os nove meses de espera como uma preparação para a servidão que é a maternidade. Eu achava que uma “boa gravidez” é lotada de sacrifícios e aguentar tudo calada, não importasse o que acontecesse. E achava que ser uma boa mãe tinha expectativas parecidas. 

Então, quando meu parceiro estava flertando, ou oferecendo me dar prazer, ou me dando aquele olhar de tesão do outro lado da sala, eu sentia um enorme conflito interno. E pra tornar as coisas piores - chegue mais perto porque tenho que sussurrar isso - eu gostava e desejava a atenção dele. 

Aflita com a minha vontade de ter prazer, eu olhei para representações de sexo grávida fora da fetichização ridícula. O Google falhou comigo, todos os resultados de pesquisa caíam em uma página de medo de complicação na gravidez, parto prematuro, e “Como fazer com meu parceiro parar de pedir sexo?”. Tudo isso, embora válido, não me ajudava em nada.  

Eu tinha algum problema? Eu pensava com ansiedade. Eu estava arriscando ter complicações na gravidez porque queria fazer sexo? Eu iria ser uma péssima mãe que não iria viver uma vida de sacrifícios perpétuos? 

As pesquisas me mostraram que na maioria das circunstâncias é seguro fazer sexo em todos os estágios da gravidez. (Menos para pessoas com risco de parto prematuro, sangramento vaginal significativo, com gravidez vazando fluido amniótico ou com descanso pélvico). Por que eu estava sendo tão dura comigo mesma?

Ao não discutirmos sobre gravidez, sexo e prazer contribuímos com um ciclo de ignorância sobre sexo.  

Cinco anos depois e depois de uma segunda gravidez, hoje eu entendo porque estava chateada com a falta de acesso a imagens de pessoas grávidas como agentes sexuais dinâmicos. Esse vácuo só se intensifica dependendo o quanto marginalizada é a identidade da pessoa. Parecia uma conclusão natural depois de décadas absorvendo piadas de grávida e quase nenhuma educação sexual. Nossa sociedade constantemente reduz as pessoas grávidas à veículos e receptáculos - nós existimos para dar vida e trazer prazer para os outros. A realidade, embora não tenha muita discussão, é que o interesse no sexo durante a gravidez não é sinal de que tenha algo errado. 

“Nós raramente vemos mulheres grávidas na sociedade sendo seres sexuais ou recebendo prazer sexual fora de um contexto cômico” - argumenta Dr. Lexx Brown-James, uma terapeuta de Casamento e Família, autora e educadora sexual. Ela notou que a sociedade caracteriza as mudanças do corpo grávido como “esquisitas” ou nada sensuais. 

Muitas vezes, as experiências individuais durante a gravidez contam com gordofobia, heteronormatização e racismo. Como uma mulher negra, por exemplo, meu desejo de fazer sexo me fazia sentir medo de estar muito longe do que era aceitável para uma mãe durante a gravidez. 

Brown-James conta que a falta de imagens positivas contribui para mitos da gravidez e da maternidade, que sugerem que a maternidade é o objetivo final do sexo, que a gravidez marca o fim do desejo. Ela acredita que ao não discutirmos a gravidez, o sexo e o prazer perdemos a maravilha que é o sexo enquanto grávida e contribuímos para a ignorância sobre sexo. 

“Ao não mostrar a gravidez de um jeito sensual na mídia, a falta de educação dos médicos sobre gravidez e a falta de educação para pessoas grávidas e seus parceiros ajuda a perpetuar essa ideia que pessoas grávidas não são sexuais” - ela afirma. 

A médica acredita que cuidar da sexualidade da gravidez é importante e deu algumas dicas como ajuda a facilitar a criação de uma base sólida para o sexo na jornada até a criação do filho. 

Confie no seu corpo

Pode parecer clichê, mas as mudanças que acontecem na gravidez fazem uma pessoa mudar o que acham normal em seus corpos e começam a confiar mais no que o corpo fala.  

“A primeira coisa que eu gosto de falar para pessoas grávidas é para confiar nos seus corpos. Seus sentimentos de desejos sexuais são válidos, e se você não tem nenhum desejo, tá tudo bem também”- ela diz.

Para algumas pessoas, confiar no próprio corpo é uma boa maneira de se dar permissão para ter a experiência de sexo e prazer durante a gravidez. Para outros, pode ser que essa confirmação dê confiança para a pessoa em se sentir confortável na decisão de não fazer sexo grávida. Também é sobre se empoderar nas ondas de interesse e desinteresse que surgem ao longo do tempo. 

Tente não cair nas mensagens negativas

Muitas vezes, quando falamos sobre sexo na gravidez, nós falamos mais das coisas negativas que positivas, como ficar cansada e ter acesso limitado as nossas posições sexuais favoritas. Embora esses sejam problemas reais, Brown-James fala que para aqueles que se sentem confortáveis em fazer sexo na gravidez podem surpreender no impacto positivo das mudanças fisiológicas - como o aumento do fluxo sanguíneo. 

“Eu gosto de lembrar as pessoas que os nossos corpos são fenomenais e tem uma grande capacidade de prazer que podem aumentar durante a gravidez, devido ao aumento do fluxo sanguíneo nas genitais”.

Não se limite ao sexo penetrativo

A médica explica que sexo e prazer podem ser ótimas ferramentar para aliviar sintomas negativos da gravidez. Ainda assim, ela deixa claro que existem muitos motivos para explorar o sexo fora a penetração (embora a penetração seja perfeitamente segura). 

O prazer não penetrativo, como o sexo oral e masturbação mútua, podem “aliviar a ansiedade, melhorar o humor e até relaxar. O bebê está seguro e bem protegido, então não existem motivos para se preocupar.” 

Estabeleça limites sobre sexo no puerpério

Embora Brown-James queira que todos nós sejamos sexo positivos na gravidez e na vida, ela também afirma que o período pós parto é um período íntimo com o próprio corpo - ela chama de quarto trimestre - e requer que tenhamos amor e carinho intencional com nossos corpos ao criar limites em relação ao sexo e nós mesmas. “Frequentemente tem a expectativa que porque nosso corpo já passou a fase de dar a luz, a mãe/pai está pronto para fazer sexo. E isso não é o caso para todas as pessoas. Por favor, nunca faça nenhuma atividade sexual se você não tem vontade, não importa o quanto o seu parceiro insistir. Isso é um caminho rápido para construir ressentimento em um relacionamento.”

“Se você é uma mãe/pai e deseja seu parceiro que acabou de dar a luz sexualmente, tente ajudá-lo com as coisas não sexuais primeiro para que eles possam ter menos fatiga e aproveitar melhor os corpos deles durante o sexo.”  

Continue a normalizar o sexo durante a gravidez

A médica acredita que aumentar as conversas sobre sexo e gravidez podem ajudar a normalizar o sexo grávida e ajudar com a saúde na gravidez globalmente, além de ajudar a família no geral: 

“Idealmente nós vamos ter pessoas grávidas mais felizes e saudáveis! Isso sem mencionar os relacionamentos felizes com menos medo e estresse. Os pais vão começar a notar que essas crenças tóxicas que eles foram ensinados são erradas e não vão querer passar isso para os seus filhos. A gravidez é um ótimo período para rever essas crenças antes que um bebê venha para o mundo”.  

Escrito por  Tradução livre de artigo publicado originalmente no Swell. Leia o artigo original.

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