Lilit Indica #4 | A autonomia do prazer
Uma das coisas mais incríveis que podemos descobrir em nossa vida é que somos donas do nosso próprio prazer. Mas haja boas referências, estudos e informações para entender que podemos (e devemos) retomar o poder do nosso corpo e lutar para termos autonomia na intimidade. Na quarta edição do Lilit Indica, falamos um pouco como é importante esse arquétipo da mulher que aceita o seu lado selvagem - tal como cita o livro Mulheres que Correm com Lobos - que toma as rédeas do prazer.
É nos momentos mais sutis que vemos todo o nosso potencial. O vibrador é uma ferramenta para ajudar a conquistar esses momentos de intimidade - sem precisar dar satisfação para ninguém. Vemos Emily - de Emily in Paris - dando um curto circuito na parte elétrica do seu prédio com o seu vibrador Magic Wand. Na parte profissional, Midge de Marvelous Ms. Maisel entra em contato com o seu humor, conquistando a autonomia e uma carreira de sucesso - em pleno anos 50.
Vamos juntas?
Emily in Paris (Netflix)
Conheça Emily, uma mulher com seus 20 e poucos anos que recebe uma promoção inesperada de sua chefe para trabalhar em um escritório de marketing de luxo em Paris.
Na cara e na coragem, ela foi para a capital francesa sem saber um pingo da língua. A tensão com sua chefe e os colegas é bem clara - já no seu primeiro dia, apelidaram ela de “la plouc” - traduzindo livremente como “jeca”.
E não são só seus colegas que não a recepcionam bem. A cidade da luz e do romance parece apresentar todo tipo de problema: ela dá um curto circuito no prédio todo quando tenta ligar seu vibrador (um modelo magic wand adaptado para tomada americana), vive com problemas de encanação e tem até que lavar o cabelo no bidê e passa a tomar banho na casa de Gabriel, seu vizinho gato - mas até que esse final não é tão ruim assim…
São suas amizades que roubam a cena. Além de Mindy, babá e cantora chinesa que ela conhece por acaso, ela fica amiga de Camille - uma galerista de arte super cool e pasmem - namorada de Gabriel.
Mas será que é um triângulo amoroso clássico? Emily descobre a origem da expressão ménage à trois: em Paris, quase todo relacionamento é aberto e os casais quase sempre têm amantes. Será que Emily, Camille e Gabriel podem ficar juntos na segunda temporada?
The Marvelous Ms. Maisel (Amazon Prime)
Miriam Maisel, ou apenas Midge, fez tudo para manter seu casamento. Nos anos 1950, não era fácil ser mulher: ela dava conta de seus dois filhos pequenos e ainda acordava, andava e dormia maquiada e penteada - onde já se viu o marido ver a esposa desalinhada?
Enfim, a hipocrisia: mesmo se esforçando para se encaixar nos moldes machistas de “bons costumes” da época, ela descobre que o marido, Joel, está traindo. Bêbada, ela corre para a casa de shows em que Joel tenta uma fracassada carreira de comédia stand up, e dá um verdadeiro show com sua espontaneidade e brilho. Nasce uma carreira.
Não é à toa que a série já foi indicada para sete prêmios Grammy: ao longo das sete temporadas, vamos ver personagens incríveis com Susan - a agente de Midge e Midge quebrar todos os padrões e regras da época (ela é até presa!). Acompanhar a história de uma mulher retomando seus sonhos, planos e desejos e desafiando o silenciamento da sociedade é libertador.
Mulheres que correm com lobos (Livro)
Um clássico, o livro de Clarissa Pinkola Estés, psicóloga jungiana e escritora, é de 1992, mas ficou muito popular com a quarta onda do feminismo dos anos 2010. Sua teoria explica a crescente ansiedade, medo e depressão que mulheres da nossa geração têm vivido na pele.
A teoria de Éstes - em um livro denso, que beira a poesia - é que somos selvagens por natureza. Somos seres orgásticos, livres, prontos para viver e sentir prazer e abraçar nossos instintos - que por natureza, são selvagens.
O arquétipo é um conceito do Jung, uma ideia de um modelo. A estrutura pela qual a gente conhece tal característica. Ela trabalha com o arquétipo da Mulher Selvagem para resgatar nossas origens como mulheres e como elas foram reprimidas ao longo das décadas pela cultura e a religião. Viramos animais engaiolados, domesticados.
"Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior."
Clarissa Pinkola Estés
A mulher selvagem mora no subterrâneo, sufocada pela cidade, o patriarcado. Hoje a sociedade rege sob a hegemonia do poder masculino. Tudo que nós conhecemos sobre mulheres teve a mão de homens: nossa espiritualidade, nossa psicologia, nossa medicina. Isso é um profundo processo de alienação com o nosso ser primitivo: hoje nos encaixamos em papéis designados do que a sociedade espera do que é ser mulher.