Lilit Indica #3 | Liberdade sexual não tem idade
Quem disse que na terceira idade não existe vida sexual? Quem foi que falou que mulheres com mais de 60 não podem procurar sua autonomia sexual e (re)descobrir os prazeres da intimidade e do orgasmo? Na terceira edição do Lilit Indica, trazemos esses questionamentos para a sala.
Mulheres maduras inspiradoras, que quebram regras e não ligam para padrões, como Grace e Frankie da série da Netflix “Grace and Frankie” e a escritora brasileira Isabel Dias, do documentário “Acenda a Luz” da UOL. Trazemos também a fantástica série escrita, dirigida, produzida e atuada por Michaela Coel, “I May Destroy You” (HBO), uma história semi-biográfica que relata um abuso sexual e os amores líquidos da geração millenial. Ainda têm a estreia de “Bom dia Verônica”, série da Netflix brasileira que relata a luta de uma escrivã da polícia contra um serial killer abusador de mulheres.
Vamos juntas?
Grace & Frankie (Netflix)
Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlin) tiveram a vida virada de cabeça para baixo quando seus maridos - com que tinham mais de 30 anos de casamento - resolveram se casar e se divorciar das duas. Antes inimigas, elas acharam um terreno em comum.
Com 6 temporadas disponíveis na Netflix, a série retrata a vida e o preconceito com mulheres na terceira idade. Elas se masturbam, usam álcool, fumam, fazem sexo casual. O envelhecimento feminino é tratado com crueldade na sociedade, mas elas conseguem superar tudo isso - com aquela pitada de humor ácido e cumplicidade de melhores amigas.
Elas saíram do inferno juntas para prosperar com uma marca de vibradores para a terceira idade, a Vybrant, na terceira temporada da série - uma das melhores. Vemos a criação da marca e do vibrador carro chefe - o “Menage à Moi” - que além de orgasmos, ajuda com a artrite e dores comuns em mulheres maduras.
Bom Dia, Verônica (Netflix)
Baseado no livro de Andrea Killmore, pseudônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes, “Bom dia, Verônica” estreou em outubro como o primeiro suspense brasileiro da Netflix.
É uma história de protagonismo feminino, de mulher que é escrivã na Delegacia de São Paulo e luta no dia-a-dia para uma São Paulo melhor e mais justa - com menos crimes de abuso sexual e físico de mulheres.
É o retrato de uma mulher que diariamente vive o assédio de homens no trabalho, faz de tudo para conseguir seus objetivos e mostra força e garra para correr atrás da família - ela é mãe de dois dois pré-adolescentes - e do caso do pai, suspeito de matar a própria mulher.
As cenas com a personagem da Janete, que sofre abuso sexual, pode ser aterrorizante mas ao mesmo tempo, criar uma grande empatia com o público. Camila Morgado brilha na atuação de uma vítima de violências diárias - nós só queremos saber de como podemos tirar ela dali.
I May Destroy You (HBO)
Um boa noite cinderela acaba com a noite de Arabella, escritora famosa no twitter. Ao decorrer da série, ela vai se lembrando o abuso sexual que sofreu.
Às vezes cômica, às vezes trágica, I May Destroy You bota o dedo na ferida e mostra sem rodeios como é a superação de um abuso sexual: trauma que deixa tantas mulheres e LGBTQIA+ calados e incapacitados.
Michaela Coel, que escreveu, dirigiu e atuou como Arabella, sabe exatamente como colocar o dedo na ferida e, ao longo dos cinco episódios da série da HBO, vai revisitando o trauma e juntando as peças.
E vai muito além do abuso sexual. Com seu humor irônico e seus melhores amigos, Kwame (Paapa Essiedu) e Terry (Weruche Opia), Bella nos mostra um verdadeiro retrato da geração millenial: amores líquidos, o excesso de exposição nas redes sociais, a insegurança e o bullying escolar.
Acende a Luz (UOL)
Por quê o sexo na terceira idade é um tabu?
Na vida de Isabel Dias, escritora de 64 anos, isso não faz o menor sentido. Sexo e orgasmos são algo orgânico: tão natural como acordar e dormir, independente da idade.
Quando ela escreveu "32: um para cada ano e o que passei com você" ela conta como foi o divórcio de um casamento de 32 anos e voltar a sair com outras pessoas.
Agora, no documentário "Acende a Luz", produzido pela UOL, ela revisita sua sexualidade e mostra que sim, existe vida sexual na terceira idade.
"Eu não tenho vergonha de dizer: eu não sou avó, mas poderia ser. Eu transo sim e gosto muito"
Isabel Dias, 64
A libido não precisa acabar depois dos 60 anos. Isabel é prova viva de liberdade, de resistência, da busca da autonomia do prazer e de acreditar na sua capacidade de exploração, independente da idade.