A história da nudez
É só ler o começo de um dos livros mais antigos do mundo (spoiler: a Bíblia) que você descobre que já existiu um tempo que as pessoas - duas delas, especificamente - andavam completamente peladas sem nenhuma vergonha, até a tentação de uma maçã acabar com tudo isso. Mas a realidade é que nós flutuamos com nossos sentimentos em relação à nudez o tempo todo ao longo da nossa existência. Como nós chegamos até a atualidade?
A nudez na antiguidade
A nudez não era só aceita na Grécia antiga - como era celebrada, como vemos em inúmeras esculturas de deuses e heróis e nas palavras dos poetas. Nós acreditamos que a primeira Olimpíada teve atletas completamente nus, embora os historiadores não tenham certeza se esse era o padrão. Nos simpósios - os banquetes que todos podiam comer, beber e ser felizes - os homens também iam sem roupa alguma. Na Roma antiga a nudez não era tão aceita em público, embora fosse frequente em balneários. E no antigo Egito, a nudez “prática” era aceita para trabalhadores ou dançarinos, mas não era comum.
A cultura do banho
Depois do fim do Império Romano, o cristianismo ajudou na restrição da nudez pública (e a culpa associada ao corpo nu). Mas ao redor do mundo, a cultura do banho muitas vezes persiste. Os hammans turcos, nos onsens japoneses e nas saunas finlandesas continuam - até hoje - a ter lugares para as pessoas tirarem as roupas em público, tipicamente em áreas divididas por gênero.
Arte vs. o obsceno
Na Renascença Italiana, o interesse revigorado nos ideais da Roma antiga e da Grécia fez com que os artistas incorporaram a nudez na arte ocidental novamente, depois de anos de modéstia. Nos séculos seguintes, a nudez continuou a aparecer na arte, muitas vezes com a intenção de chocar - a ideia da nudez, no final das contas, não era menos escandalosa que antes.
Estereótipos arriscados
O desenvolvimento do daguerreótipo, a forma arcaica da máquina fotográfica, naturalmente incentivou as primeiras fotos nuas, que eram tipicamente de mulheres. Os valores vitorianos frearam as fotos pornográficas, embora tivessem demanda e estivessem sendo produzidos. Em 1857 o Obscene Publications Act tentou dar o poder para o governo inglês frear e destruir fotos eróticas e prender as pessoas que as criavam e vendiam.
O empurrãozinho para parar o estigma
No final do século 19, o movimento Freikörperkultur (ou “cultura de libertação do corpo” começou na Alemanha como um levante para parar com a culpa com nudez, e virou o primeiro movimento global de aceitação do lifestyle de naturismo - o que encoraja a ideia que a nudez não é necessariamente sexual. O movimento naturista se espalhou para o restante da Europa, assim como para o Canadá, Austrália e Nova Zelândia - e também no século 20. Nos anos 60, a cultura de naturismo também ficou popular no movimento hippie.
Trazendo a sensualidade de volta
Sim, os vitorianos podiam ficar nervosos com a nudez, mas a cultura puritana foi o que impulsionou a criação da cultura do burlesco, que começou no final dos anos 1800. Perto da virada de século, o striptease e o can-can (que se originou no Moulin Rouge, em Paris) viraram fundações para o movimento burlesco e o ato de se despir sensualmente. Em 1920, a primeira dança com pole dance foi performada, e nos anos 60 e 70, e os clubes de strip se espalharam ao redor do mundo - embora a legalidade desses clubes até hoje varie de país para país.
Onde estamos hoje
Você pode achar praias e resorts de nudez ao redor do mundo, e a nudez continua comum em balneários. As comunidades naturistas e nudistas continuam a lutar contra os estigmas da nudez, e desde 2012, o movimento “Free the Nipple”, fundado por Lina Esco, vem lutando para descriminalizar e desestigmatizar o topless feminino.
Ainda existe o tempo e o lugar certo para a sexualidade. E agora, a tecnologia mudou completamente a dinâmica da nudez. A assinatura na plataforma OnlyFans permite que criadores de conteúdo façam a curadoria de seus próprios vídeos e fotos para seus assinantes, sendo pagos diretamente pela plataforma (o site teve um aumento de 75% nas suas inscrições no começo da pandemia, em Março e Abril de 2020).
A nossa atitude cultural sobre a nudez pode estar evoluindo e mudando, mas uma coisa é clara: é uma ótima época para se sentir confortável com sua própria imagem nua.
Escrito por Rebecca Deczynski. Tradução livre de artigo publicado originalmente no The Maudern. Leia o artigo original.
Foto Capa por Bruna Bento