Molhada

 

Ela tinha um toque certeiro e um brilho absurdo no olhar. Sabe essas mulheres que parecem ter um ímã, uma gravidade própria, que faz com que tudo de bonito as circunde? Observava suas curvas e seu olhar; as ondas de seus cabelos e as ondas do mar em que ela se banhava como se um fosse extensão do outro; as comidas que postava e os livros que lia de manhã. Um dia, ela deixou escapar numa conversa que gostava de gozar assim que acordava, e essa cena nunca saiu da minha cabeça: ela só de calcinha, com a bunda para o alto, se tocando entre os lençóis até soltar um urro de prazer.

Conforme fui me tornando sua amiga, fui adentrando em seu universo particular e ficando cada vez mais maravilhada. Não soube sequer separar paixão de admiração, só me entreguei às suas belezas, me deleitei sem me preocupar. A coisa começou a mudar da dimensão platônica para a realidade num dia em que esbarrei minha perna na dela sem querer e pedi desculpas. Acontece que ela retribuiu dizendo “imagina” e me fazendo um carinho no tornozelo com o pé, ficando ali paradinha, encostada. Imagina se ela soubesse o fogo que me subiu com aquela aproximação?

O que ela me confessou depois era que: sim, ela já imaginava.

Assisti seus passeios pela boca de meninos, meninas e menines nos bares e afters em que nos metíamos e corria para casa perturbada pela cena de seus cabelos enroscados em outras mãos, sua língua percorrendo outros corpos, meu peito queimando feito febre. Era possível sentir ciúme assim de quem não nos pertencia? Acontece que tinha em mente uma coleção de olhares para mim em meio a esses beijos. O que isso queria dizer?

Meus sentimentos estavam cada vez mais conflitantes, e, a cada cena daquela com a qual me deparava, eu me sentia covarde, decidida a fazer diferente da próxima vez, a me tornar uma daquelas bocas em vez de uma companhia e confidente que a levava até elas. Até que minha sorte virou.

Foi em uma quinta fria e chuvosa, depois de tomarmos um bolo do restante de nossos amigos, que decidimos deixar o bar molhado e o impulso boêmio de lado e partir para uma outra aventura.

— Chega! — disse, decidida. — Chega de ser jovem, lá em casa tem sopa e tá quentinho. Vamos sair dessa chuva maldita.

Ela morava a poucos quarteirões do bar em que estávamos, e, como estava impossível conseguir um carro de aplicativo, fomos andando rapidinho, meio cobertas da chuva por casacos e lenços, pulando entre as marquises, rindo e xingando:

— Que maldição, eu tô cansada de me meter em furada.

Seu apartamento era incrivelmente quentinho, contrastando com o perrengue recente, e tínhamos um problema muito clichê para resolver: estávamos ambas molhadas! Ela me deu uma toalha, me mostrou o banheiro e trouxe uma roupa seca, que eu troquei ainda em sua frente enquanto falava sem parar, praguejando o fato de ter saído de casa naquele dia.

Na sala, uma coberta só nos esperava sobre o sofá, com o abajur ao canto deixando o ambiente à meia-luz. Ok, tentei segurar a imaginação por alguns segundos, mas foi impossível, porque a realidade me confrontava: enquanto me aninhava nas almofadas, ela colocou uma música e também se deitou, chegando perto de mim e encostando as pernas nas minhas. Murmurou:

— Brrrr, que frio!

— Chega mais perto que a gente se esquenta — disse, em um misto de impulso de desejo com uma vontade real de ter outro corpo quentinho perto de mim. Útil ao agradável que diz, né?

— Achei que você nunca fosse pedir.

Aquela frase saiu da boca dela como um desabafo. Foi tudo muito rápido, natural, como se já tivesse acontecido antes (na minha imaginação, sim, mas ela não sabia disso). Se aninhou em meu peito e me deu um beijo demorado, respirando profundo, enquanto ajeitava meus cabelos com uma das mãos. A partir daquele ponto, nossos corpos orbitavam ao redor um do outro em uma dança de pernas, braços e mãos passeando por onde pudessem. Nossos quadris se encaixaram de uma forma que nossas bucetas ficaram coxa a coxa, fazendo movimentos de vai e vem à medida que os beijos rolavam.

E que beijos!

Senti a delícia de nossos peitos coladinhos, se esfregando (se você nunca esfregou seus peitos nos de outra mulher, fica aqui minha forte recomendação!) e desci rasteira, sem pressa, com a boca por sua barriga até chegar na calcinha. Beijei sua virilha por cima da renda e fiquei por uns instantes assim, respirando forte e mordiscando seus lábios por cima do tecido, procurando passagem para o meu deleite. Enquanto isso, ela jogava ainda mais os quadris em minha direção, num pedido delicioso e desesperado para que eu mergulhasse ali – que assim seja!

Nos livramos de sua calcinha e deslizei a língua por entre seus pelos e lábios, encontrando ali já um riozinho escorrendo. Quanto mais eu me deleitava, mais sentia que nos tornávamos um só fluxo, uma correnteza. Então, a penetrei, primeiro com um dedo, depois com dois. E senti sua carne macia ir e vir com o espasmo que minha penetração produzia, até que eu mesma podia jurar que estava sentindo o que ela sentia. Será possível isso? Só sei que ela gozou assim em minha mão - finalmente aquela menina em minhas mãos, me fazendo conhecer mais uma das belezas que ela conservava ao seu redor - a carne trêmula, os gemidos-sorrisos de tesão, o calor de nossos corpos juntos, nós duas novamente molhadas: agora de um jeito bom!

 Autora: Loren Kaiza

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